Não é no Museu de Arte do Rio Grande do Sul (MARGS), na Casa de Cultura Mário Quintana ou na Fundação Iberê Camargo. Tampouco é para seres humanos. Exposições de arte curiosas ocuparam, na sexta-feira (10), ruas de Porto Alegre destinadas a uma plateia nada comum: pombas e formigas.
A ideia foi colocada em prática pelo artista Gabriel Felds, de 25 anos. Ele expôs pequenos quadros – do tamanho de seu público alvo – em praças no Centro Histórico de Porto Alegre. As telas retratam, por óbvio, as próprias pombas e formigas.
“É legal porque os animais são misteriosos. A gente não consegue conceber o que passa na cabeça deles, o que está acontecendo. A pomba tá fazendo o quê quando olha isso ali?”, questiona.
A reação das pessoas na rua também foi observada pelo artista.
“Todo mundo ficava espiando o que era aquilo, tentando entender. O pessoal se abaixava, olhava os desenhos”, diz.
A publicação feita em seu perfil no Twitter ultrapassou 1 milhão de visualizações, com mais de 45 mil curtidas e 6 mil retweets. Se a avaliação dos retratados é desconhecida, os seguidores humanos do artista gostaram da iniciativa.
“Isso é a melhor coisa que eu já vi na minha vida, moço”, disse um internauta. “Isso é facilmente uma das melhores coisas que vi na internet esse ano”, escreveu outro. “Que lindinhos apreciando as artes”, comentou outra pessoa no Twitter.
O retorno do público online animou Gabriel, que diz ter chegado muito mais longe do que imaginava.
“O mais legal das redes sociais é isso, porque ela é uma espécie de galeria acessível. Todo mundo pode entender e comentar”, comenta.
Trajetória
Natural de Canela, na Serra, Gabriel sempre se interessou por arte. Ainda na infância, participava de peças de teatro e teatro de bonecos. Antes de ingressar na universidade, ingressou no mundo das artes visuais.
“Desde os 16 anos, comecei a produzir, comecei a desenhar, esculpir. Não parei. Gosto de ficar explorando coisas novas”, conta.
A ideia de retratar os animais começou a nascer em 2016. Após comprar uma caneta de ponta fina, descobriu que ela era boa para retratar objetos muito pequenos. As formigas vieram primeiro; depois, as pombas.
“Viajei. Fiz uns cavaletes pequeninhos, fui inventando coisas”, diz Gabriel.
Sem saber se as formigas enxergam, o artista colocou aromas nos pequenos quadros para atrair os insetos. Deu tão certo, que algumas levaram as telas consigo.
A exposição das formigas foi feita na Praça da Alfândega, tradicional ponto da Capital, que recebe a Feira do Livro, em frente ao MARGS. Como as pombas do local “são um pouco tímidas”, segundo Gabriel, a mostra para as aves foi feita na Praça Raul Pilla.
“São umas pombas cara de pau, sabe? Tu senta ali, elas já te cercam. Aí eu pensei: ‘essas pombas ali vão gostar'”, brinca o arista visual.
Gabriel explica que as mostras duraram pouco, para não estressar e agitar os animais. Ele conseguiu atrair as pombas com sementes.
Sobre o medo (ou nojo) que algumas pessoas sentem de pombas, Gabriel diz ser “o charme” da ave.
“Eu noto que tem muita gente que tem nojo de pomba, mas tem muita gente que gosta de pomba também. Justamente por esse charme de ser um bicho urbano, completamente imerso na nossa sociedade, eu nunca tive um nojo de pomba. Mas quando me cercaram, começaram a me rodear, eu pensei: ‘meu Deus, talvez eu tenha exagerado”, fala.
Novas criações
Com as fotos viralizando online, Gabriel Felds planeja novas intervenções. Com a repercussão, ele recebeu convite de artistas de outros estados para reproduzir as telas Brasil afora.
“Eu adoro ficar inventando coisa nova, tendo ideia maluca. Mas eu gostei muito da repercussão e gostei muito de fazer, de executar”, relata o artista.
Ele afirma que fazer desenhos pequenos é uma forma de terapia. Gabriel incentiva as pessoas a exercitarem suas produções artísticas ou, em último caso, sentar em algum lugar para contemplar a natureza.
“Lembrar um pouco de observar o mundo além da rotina, quebrar um pouco a trilha de formiga”, diz.
